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Racismo alimentar mostra que a população pobre, negra e periférica é a mais atingida pela dificuldade de acesso aos alimentos
Reunião de pais de uma tradicional escola da Zona Sul do Rio de Janeiro. Na pauta, entre outros assuntos, a alimentação dos alunos fora do colégio. A preocupação é com o entorno, já que nas cantinas internas o cardápio está devidamente regularizado — os alimentos ultraprocessados foram totalmente banidos. No pátio do recreio, inclusive, há uma cantina vegana!
Do outro lado da cidade, nas comunidades periféricas, a realidade é bem diferente. Apesar do esforço em se fazer cumprir a recente Lei Municipal que proíbe a “venda ou oferta” de alimentos e bebidas ultraprocessados nas cantinas e refeitórios das escolas localizadas em todo o município, produtos com adição excessiva de sal, açúcar e gorduras fazem parte do cotidiano desses alunos fora dos muros.
A dificuldade de ter acesso a alimentos mais saudáveis é apenas mais uma demonstração da segregação social da nossa sociedade. Na periferia, há menos feiras e supermercados que comercializem alimentos frescos, frutas e verduras. Em contrapartida, a oferta de refrigerantes, doces e biscoitos estão na calçada de qualquer rua.
Para alguns pesquisadores, isso tem nome: racismo alimentar. “Uma forma de discriminação que se manifesta na disponibilidade, acessibilidade e qualidade dos alimentos”, define Wanessa Marinho, nutricionista e tecnologista em saúde pública, liderança do Núcleo de Alimentação, Saúde e Ambiente da Coordenação de Saúde do Trabalhador da Fiocruz. “A ausência de supermercados e mercados de alimentos frescos em áreas predominantemente negras, conhecidos como desertos alimentares, limita o acesso a opções saudáveis”, completa.
“O racismo alimentar trata-se de um conceito que entende que a comida pode ser utilizada para agravar desigualdades sociais e estigmatizar, excluir e até dizimar grupos de pessoas”, diz Ellen Cocino, nutricionista pós-graduada em Nutrição Clínica pelo CCE/PE.
Especializada em Transtorno Alimentar no Ambulim IPQ/USP, ela ressalta que pessoas negras e indígenas são as mais afetadas pela má alimentação. “Ter acesso a uma alimentação saudável, infelizmente, ainda é um privilégio de poucos. E alguns grupos, como de pessoas negras e indígenas, estão ainda mais vulneráveis”. Isso significa que o chamado racismo estrutural, presente na sociedade, é um fator determinante que dificulta o acesso de uma parcela da população à alimentação saudável.
Fonte e matéria : https://radis.ensp.fiocruz.br/reportagem/racismo-alimentar/a-cor-da-fome/