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Desde o 6 de janeiro de 2021, nós brasileiros nos perguntávamos quando ocorreria a nossa versão da invasão do Capitólio, pois todos os ingredientes principais que levaram ao vandalismo golpista por lá estavam também presentes aqui: uma turba de fanáticos operando no limiar da dissonância cognitiva, disposta à prática dos mais graves crimes em nome das causas defendidas; um conjunto de lideranças políticas dispostas a instrumentalizar a fúria violenta desses fanáticos em seu próprio benefício; e, por fim, um desprezo compartilhado, pela turba e por quem os lidera, pelos ritos e pelas convenções mais básicas de uma democracia civilizada, como a aceitação de derrotas eleitorais e o não recurso à violência como arma política. Demoramos exatos dois anos e dois dias para chegar lá.
Evidentemente, há particularidades no caso brasileiro. A começar pela magnitude dos danos materiais, muito maiores no Brasil, inclusive porque três prédios foram atacados pelos criminosos. Por outro lado, se nos Estados Unidos houve mortes de policiais e invasores, mas no Brasil não, isso se deve ao fato de que os agentes da lei, por lá, tentaram impedir a ação dos trumpistas. Já os daqui oscilaram entre a escolta, o apoio moral e a confraternização com os criminosos bolsonaristas, o que certamente os assanhou para a destruição desinibida de todo o patrimônio público, material e simbólico, que viram pela frente. Fosse um exército inimigo ocupando a Praça dos Três Poderes, o estrago talvez tivesse sido menor.
A leniência da Polícia Militar do Distrito Federal com os vândalos é obviamente um produto do clima mais amplo de lealdade à extrema direita golpista que permeia as ações de diversas autoridades políticas no Brasil atual. Ela não foi obra de decisão desastrada ou incompetente apenas do comando policial da capital federal. É impossível não interpretar a decisão do governador Ibaneis Rocha (MDB-DF) de entregar a Secretaria de Segurança Pública do DF a Anderson Torres, figura que se notabilizou pela fidelidade canina, inclusive na delinquência política, a Jair Bolsonaro, como uma solene transmissão das forças policiais da capital federal ao bolsonarismo radical. Todo e qualquer extremista entendeu a piscadinha que Ibaneis lhes deu.
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Rafael Mafei