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Estado do Rio Registra mais de cem estupros coletivos em 2022: Crianças são as principais vítimas!
A menos de uma semana de completar 12 anos, a menina voltava tranquila das aulas em uma
escola municipal na Zona Oeste do Rio. Na porta de casa, um aluno mais velho, que a seguia
desde o colégio, a abordou e forçou entrada no imóvel. Ela foi levada até um dos quartos,
onde ele “abusou sexualmente da criança, inclusive com penetração”, como está descrito no
registro de ocorrência, lavrado no dia 9 de maio. O agressor filmou o ataque e passou a
ameaçar a vítima, que nunca havia mantido relações, com a divulgação das imagens. Com esse
artifício, ele obrigou a menina, em outras duas ocasiões, a praticar sexo forçado com mais três
estudantes da mesma escola, todos também de 15 anos. Nessas situações, os quatro a
estupraram simultaneamente.
Um levantamento exclusivo feito pelo GLOBO aponta que cenas como essa repetem-se no Rio
a cada 36 horas, em média. Entre janeiro e maio deste ano, foram computados 102 casos de
estupro coletivo no estado, como atestam dados obtidos junto à Polícia Civil via Lei de Acesso
à Informação. Foram considerados na análise os crimes — ou fatos análogos, no caso de
autores menores de idade — tipificados como estupro ou estupro de vulnerável em que, no
momento do registro de ocorrência, havia pelo menos dois agressores já identificados ou
apontados pela vítima.
— Minha filha é tão criança que parece que nem entende muito bem o que houve. Ela veio
morar comigo, para passar menos tempo sozinha, e também teve de mudar de escola — conta
o pai da menina seguida e estuprada.
Em 2018, após uma mudança no Código Penal, os estupros ocorridos “mediante concurso de
dois ou mais agentes” passaram a proporcionar uma pena maior, que pode superar 16 anos de
prisão. A alteração começou a tramitar no Congresso dois anos antes, uma semana depois de
vir à tona um estupro coletivo ocorrido em um pequeno imóvel no Morro da Barão, na Praça
Seca, Zona Oeste do Rio. Filmada tal qual a menina abordada na porta de casa, a vítima, de 16
anos, teve os vídeos do abuso — nos quais aparecia nua e desacordada, e tinha as partes
íntimas manipuladas pelos agressores — viralizados na internet, gerando comoção nacional.
Uma a cada quatro vítimas é menor de idade
Ao todo, os 102 estupros coletivos registrados no Rio este ano envolvem 243 agressores e 117
vítimas, já que, em alguns casos, mais de um alvo é atacado pelo grupo simultaneamente. Três
em cada quatro vítimas são menores de idade. Dentro desse recorte, mais da metade é
composta por abusados de no máximo 11 anos, com 45 crianças violadas por mais de uma
pessoa ao mesmo tempo antes de chegar à adolescência.
— O prejuízo potencial é devastador, com estragos que podem persistir por toda a vida. E
situações com múltiplos agressores podem ser ainda mais danosas, já que, além de não terem
desenvolvimento físico e cognitivo, as crianças podem se sentir ainda mais constrangidas,
coagidas e incapazes de lidar com os impactos do abuso — explica a psicóloga Elaine Chagas,
especializada em Infância e Adolescência e uma das diretoras do Instituto de Terapia
Cognitivo-comportamental no Rio (InTCCRio).
Fonte e matéria completa : Geledes