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A semana em alusão ao dia da Consciência Negra em Santa Bárbara d’Oeste foi repleta de manifestações por toda cidade, principalmente na região central, onde se concentra a maior parte das celebrações e que, em séculos passados, também foi palco da circulação de uma sociedade escravocrata, logo, o centro da cidade para a celebração é notório no conceito de simbologia.
Mas na data de hoje, 20 de novembro (feriado nacional finalmente), meu olhar e percepção destacam, o evento que ocorreu na Estação Cultural no sábado, dia 16 de novembro. Estação ferroviária fundada no fim do século XX que concentra em toda sua estrutura o silêncio e trabalho de pessoas negras livres e também escravizada. Nessa mesma estação, dentro desse silêncio e espaço que a voz ecoou e, para um sensitivo, poder-se-ia garantir a presença dos ancestrais da população negra. Nessa mesma estação, agora revitalizada e tombada como um espaço cultural, que foi realizado agora no dia 16 de novembro de 2024 a Feira Afro Bárbara, mais conhecida como a Feira Preta de Santa Bárbara. No contexto Feira Preta Oficial, sabe-se que está em sua 22ª edição neste ano de 2024, e realizada no mês de maio no Parque do Ibirapuera na cidade de São Paulo e tem com objetivo de criar e enraizar felicidades coletivas, celebrar as identidades pretas e gerar prosperidade para a comunidade negra. Hoje a Feira Preta Oficial é o maior festival de Cultura Negra e Economia Criativa da América Latina, um lugar onde a história e a inovação se encontram, onde o passado se entrelaça com o futuro por meio de criatividade, inventividade e potências.
Mas a Feira Preta Barbarense, como extensão da Oficial, apresenta sua importância e força no interior paulista.
A participação do Projeto Toca Raiz ai, Nego! – do músico, cantor, compositor, ritmista e interprete, Negro Silva, que canta samba raiz de qualidade, exala carisma e simpatia por uma hora e meia com um dos melhores shows que a comunidade barbarense pôde presenciar nos últimos tempos. Entenda que é um show raiz em todos os sentidos, de talento e competência musical e não de grandes estruturas e equipamentos potentes que projetam e melhoram a performance do artista. Quem faz uso de equipamentos tecnológicos e modernos, não tem problema nenhum e, se pode, use. A questão, o destaque, é a qualidade de Negro Silva e Agnaldo Amaral, músicos e interpretes com total domínio dos instrumentos. Fato que a cidade de Santa Bárbara tem um talento que está na estrada há algumas décadas e a cada ano seu talento, voz, ritmos chega aos ouvidos e toca a alma de quem tem a oportunidade de presenciar. Negro Silva tem como padrinho Agnaldo Amaral, uma das mais consagradas vozes do Carnaval de São Paulo e interprete da Escola de Samba Nenê de Vila Matilde de 2025 (A escola Nenê de Vila Matilde que aposta no enredo “Um quê de poesia e um tanto de magia, a arte de encantar o imaginário popular”. Agnaldo Amaral veio a Santa Bárbara especialmente para participar do Projeto e, juntos, ele e Negro Silva, com toda certeza nos trouxeram os carnavais de décadas atrás, que tomavam as ruas da cidade com as escolas de sambas locais. Nesse momento que as vozes de Negro Silva e Agnaldo Amaral ecoavam a musicalidade de samba raiz, um senhor que lá estava, revelando pequenos movimentos em harmonia com o ritmo do samba, expressou um sentimento de nostalgia, sendo também músico da velha guarda, afirmou que “fazia tempo que não presenciava tão bons intérpretes cantando juntos num mesmo espaço”.
E já que estamos falando de músicos e música, num determinado momento da apresentação do Negro Silva, a Feira Preta faz uma intervenção durante o show com a obra Preciso me Encontrar do inigualável Cartola que trazia os dizeres; NÃO QUERO SER O PRÓXIMO, NO BRASIL MORREM 82 JOVENS POR DIA E 77% SÃO NEGROS, NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS APENAS 2% DOS ALUNOS SÃO NEGROS e VIDAS NEGRAS IMPORTAM. Digno destacar que tanto a Feira Preta quanto o Projeto Toca Raiz ai, Nego! disseram a que vieram: reconhecer e valorizar a luta dos negros, sua cultura e suas contribuições para a formação do povo brasileiro.
Nessas ações que fortalecemos reforçar a importância de a sociedade como um todo refletir e agir para combater o racismo, tão presente no país. Afinal, a música, a política, a religião e várias outras áreas sociais foram fortemente influenciadas por essa cultura e a sociedade democrática precisa, urgentemente, combater toda e qualquer ação de racismo, intolerância religiosa, gêneros e orientação. Que venha a 4ª edição da Feira Preta Barbarense (Feira Afro Bárbara) e que o Projeto Toca Raiz ai, Nego! se transforme num grande Festival de Samba Raiz, se unindo com tantas outras iniciativas da comunidade negra local.
A Música e a cultura foram as grandes pacificadoras desse movimento que só cresce pelo Brasil a fora, assim como em Santa Bárbara que entendeu a importância da data há décadas pelas pequenas ações do Seu Dito Preto que sempre foi uma voz em meio ao silencio que ainda grita, nos dias de hoje.
E nunca nos esqueçamos, o Estado Democrático de Direito deve oferecer a todo cidadão direito à educação, saúde e justiça social.
Da redação – Fátima Franco jornalista com colaboração do professor e pesquisador Sidney Bomfim
Foto: Eraldo Vaz